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Gosto de interpretar isto como o meu próprio milagre natalício, optando por esquecer, por ora, aquilo que terei que desembolsar para o arranjo e/ou a aquisição de um novo maximbombo.
I wanna roll around like a kid in the snow
I wanna relearn what I already know
Just let me take flight dressed in red
through the night on a great big sled
I wanna wish you merry christmas
Ho HO HO
Sim, as canções de Natal são pirosas, tal como as cartas de amor podem (e devem) ser ridículas... porque Natal que é Natal também se quer bem lamechas e pirosinho.
A todos, uma boa embriaguez de amor :)
“Um dia, vou cobrir o meu corpo com pozinhos de ouro e deixá-lo viajar no teu sopro”. É hoje o dia.
Tenho um amigo no último ano de medicina que me enviou uma mensagem dizendo que “ser aluno de cirurgia no Garcia da Orta faz uma pessoa ambicionar ser dona de casa”. Imbuída de boa fé, ameaço surpreendê-lo com um espanador em cada mão e tento animá-lo com a frase "era pior se tivesses que fazer um toque rectal”. E o meu telemóvel ilumina-se com a notícia: “Fiz um toque rectal hoje. Senti-me um violador”.
O pior é que este mau sentido de oportunidade se manifesta com frequência. Como no outro dia, quando pedi para passarem, num restaurante, um CD de música popular (vulgo, pimba), durante o aniversário de um amigo. Bastaram cinco minutos para constatar que aquilo conseguia ser pior do que o casamento de uma prima afastada no Bombarral. E é aí que uma convidada da festa me pergunta:
- “Mas porquê o Bombarral?”
- “Não sei, foi o sítio mais foleiro que me ocorreu”, respondo.
*Silêncio embaraçoso*
- “Ah. É que eu sou do Bombarral”, diz ela.
*Silêncio ainda mais embaraçoso (só desculpável por estarmos com os copos), seguido de gargalhadas*
O que vale é que a ideia parola de ouvir o CD tinha sido minha. Mas pior, pior, foi ver os turistas entrarem no restaurante, curiosos, pensando que toda aquela ambiência musical era oh, very typical, very exotic.
Henri Matisse, 1939, La Musique
Três momentos embaraçosos das nossas vidas:
- Um grupo de vinte pessoas canta os “parabéns” na festa de aniversário do senhor (fictício) João Azevedo. Quando chegam ao verso ‘para o menino tal’, ouve-se uma mistura atabalhoada de nomenclaturas, que vão do ‘para o senhor João’, ‘para o Azevedo’, ‘para o meu papá-á’ ou ainda, no caso das pessoas menos chegadas ao aniversariante, ‘para aquele senhor que foi meu companheiro de camarata no Ultramar’. E que tal passarmos a combinar a quem é que vamos desejar os parabéns, antes mesmo de começarmos a cantoria?
- Ocupamos a última cadeirinha disponível na sala de espera do centro de saúde. À medida que vão chegando utentes, o nosso cérebro faz a selecção automática de cedência de lugar através de um julgamento especulativo de idades. Eis que entra uma senhora de 50 anos (com aparência de 80) e nós hesitamos – levantamo-nos ou não? Gotas de suor escorrem pela testa. A senhora repara no nosso ‘vai, não vai’ e vira a cara, ofendida. Desculpe, tem razão, eu só queria ficar de pé nas próximas 2 horas.
- Passamos horas a conversar com um desconhecido. Reencontramo-lo por mero acaso e a so called chemistry lá aparece. ‘Podias ser a mulher da minha vida’, diz ele, seguido do previsível ‘tens que conhecer a minha namorada’ (porque Deus tem sentido de humor). E é aqui que vem o sorriso cúmplice de embaraço. Nós anuímos de volta, com quem diz: "Ainda bem que tens maturidade emocional para saber que o amor não é (só) deslumbramento nem fascinação, como cantava a Elis. É respeito, admiração e confiança". Mas, chiça, custa a disfarçar a saliva engasgada na faringe. Glup para o ego!
…para o mosquito Josué, cuja estatura equivale à de uma criança de 4 anos, e que há três noites converteu o meu quarto na sua Insectolândia. Imagino-o em loops na montanha-russa Bracinho Quer uma Trinca, ou em arranques de Fórmula 1 no meu ouvido, mas montado numa Famel Zundapp.
Dei-lhe nome para ser mais fácil de insultar.
Porque é que gostamos de comentar que fulano está mais gordo e que cicrano usa aparelho, mas somos incapazes de dizer: “O teu intelecto desenvolveu imenso nos últimos tempos” ou “é bom constatar o quanto amadureceste emocionalmente”?
Boa parte da culpa nesta valorização excessiva do corpo vai directamente para o senhor Vinicius de Moraes, mais a sua "Receita de Mulher". Reparem bem nas exigências que o poetinha fez ao sexo feminino:
1. «Uma mulher sem saboneteiras é como um rio sem pontes» - Hã? Há aqui uma expressão brasileira que me escapa ou os produtos do Mestre Maco e da Maxmat são sedutores para os homens?
2. «Mas que seja uma nuvem com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo» - Ok, aqui já reconheço as hormonas.
3. «É preciso que as extremidades sejam magras: que uns ossos despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas no enlaçar de uma cintura semovente» - Para que as extremidades magras e os ossos despontados façam furinhos no corpo alheio.
4. «É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio. Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!)» - Vamos a correr comprar fertilizante para jardim e um tubo de pomada Bepanthene à farmácia.
5. «Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior a 37º centígrados, podendo eventualmente provocar queimaduras do 1.° grau» - No tempo em que os termómetros eram vendidos em sex shops.
(Logótipo da autoria do muy talentoso amigo António Baltazar)