Toda a gente tem os seus anjinhos bons e maus, batalhando entre si nos cantinhos bafientos do nosso bom-senso. Às vezes, na Rua dos Sentimentos Medricas do nosso cérebro, encontramos também o Anjinho-Velho-do-Restelo, o eterno pessimista precavido contra todos os males que, no meu caso, é personificado pelo meu pai.
O que não falta a qualquer pai são sábios alertas de como o mundo é uma esfera escorregadia controlada por lobos na pele de humanos. E a lista de perigos é exaustiva porque, além dos cataclismos incontroláveis da natureza que podem atingir-nos a qualquer momento, há que ter em consideração, por exemplo, que o pneu é um objecto frágil que pode furar-se a qualquer instante, e por isso não devemos andar de carro sozinhos – nem tão pouco apanhar um táxi, porque toda a gente sabe que, perante uma mulher sozinha, um taxista pode sucumbir a pensamentos matreiros. Basicamente, num cenário ideal, eu não precisaria de sair de casa para viver.
Ora, a prova de que nem toda a cautela do mundo é suficiente para impermeabilizar o casulo da inocência é que, na semana passada, num autocarro para Benfica em plena hora de ponta, um jovem amigo de estupefacientes sentou-se à minha frente, colocou a mão no bolso das calças e começou a agitar a mão freneticamente. Estaria com comichão? Preferi não perguntar. Mergulhei a cabeça no livro, mas ainda consegui vê-lo sacar a ponta e mola para arranjar as unhas. AHA! Não me tinhas avisado desta, papá.
O que não falta a qualquer pai são sábios alertas de como o mundo é uma esfera escorregadia controlada por lobos na pele de humanos. E a lista de perigos é exaustiva porque, além dos cataclismos incontroláveis da natureza que podem atingir-nos a qualquer momento, há que ter em consideração, por exemplo, que o pneu é um objecto frágil que pode furar-se a qualquer instante, e por isso não devemos andar de carro sozinhos – nem tão pouco apanhar um táxi, porque toda a gente sabe que, perante uma mulher sozinha, um taxista pode sucumbir a pensamentos matreiros. Basicamente, num cenário ideal, eu não precisaria de sair de casa para viver.
Ora, a prova de que nem toda a cautela do mundo é suficiente para impermeabilizar o casulo da inocência é que, na semana passada, num autocarro para Benfica em plena hora de ponta, um jovem amigo de estupefacientes sentou-se à minha frente, colocou a mão no bolso das calças e começou a agitar a mão freneticamente. Estaria com comichão? Preferi não perguntar. Mergulhei a cabeça no livro, mas ainda consegui vê-lo sacar a ponta e mola para arranjar as unhas. AHA! Não me tinhas avisado desta, papá.