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O Meu Anjinho-Velho-do-Restelo

Toda a gente tem os seus anjinhos bons e maus, batalhando entre si nos cantinhos bafientos do nosso bom-senso. Às vezes, na Rua dos Sentimentos Medricas do nosso cérebro, encontramos também o Anjinho-Velho-do-Restelo, o eterno pessimista precavido contra todos os males que, no meu caso, é personificado pelo meu pai.
O que não falta a qualquer pai são sábios alertas de como o mundo é uma esfera escorregadia controlada por lobos na pele de humanos. E a lista de perigos é exaustiva porque, além dos cataclismos incontroláveis da natureza que podem atingir-nos a qualquer momento, há que ter em consideração, por exemplo, que o pneu é um objecto frágil que pode furar-se a qualquer instante, e por isso não devemos andar de carro sozinhos – nem tão pouco apanhar um táxi, porque toda a gente sabe que, perante uma mulher sozinha, um taxista pode sucumbir a pensamentos matreiros. Basicamente, num cenário ideal, eu não precisaria de sair de casa para viver.
Ora, a prova de que nem toda a cautela do mundo é suficiente para impermeabilizar o casulo da inocência é que, na semana passada, num autocarro para Benfica em plena hora de ponta, um jovem amigo de estupefacientes sentou-se à minha frente, colocou a mão no bolso das calças e começou a agitar a mão freneticamente. Estaria com comichão? Preferi não perguntar. Mergulhei a cabeça no livro, mas ainda consegui vê-lo sacar a ponta e mola para arranjar as unhas. AHA! Não me tinhas avisado desta, papá.

Stop making excuses.

O que é mais grave?

1) O mano achar que o novo suspeito no caso M-a-d-d-i-e (assim a PJ não vem aqui espreitar), cujo retrato a carvão está espalhado pelos jornais de todo o mundo, está na realidade escondido no vídeo-clip de ‘Take On Me’, dos A-ha?
2) A mana cantar, em resposta, “Taaakeeee oooonnnnnn Maaadddiiieeeee”?
3) O suspeito ter sido visto três vezes na zona da Praia da Luz, uma das quais a olhar “de forma suspeita” para um grupo de crianças?

É que se for a última hipótese, eu e o meu instinto maternal estamos lixados.

I Spit on You!

Sempre consegui desonrar tanto fumadores, como não-fumadores. Quando era adepta da seita “vamos-esperar-7-segundos-para-que-a-nicotina-chegue-ao-cérebro”, ficava irritada por sentir o organismo realmente dependente e, por isso, abandonava o vício. E assim fui parando e recomeçando a fumar, ano após ano, mais ou menos desde que entrei para a faculdade.
Em 2007, decidi repudiar de vez esse pequeno cilindro demoníaco. I spit on you, disse-lhe eu. Em parte, porque andava a expelir quantidades extraordinárias de muco, que não era mais bem-vindo nas minhas membranas desde que o petróleo começou a oleá-las ele próprio.
Então, porque é que agora (agora que é AINDA MAIS proibido fumar; agora que os trabalhadores são escorraçados das empresas para matar o bicho; agora que todos os bares e restaurantes têm espiões à coca para colarem multas nas testas dos transgressores), porque é que AGORA é que tenho vontade de fumar outra vez? Amordacem-me e encham-me as gavetas com cigarrinhos de chocolate, por favor.

Runs in the Family

- Característica que distingue as mulheres da família: chorarem quando morre a aranha no filme “A Teia de Carlota”.
- Característica que divide os elementos de ambos os géneros: as posições políticas e a dicotomia “tu és muito verdinha e sonhadora” / “tu estás endurecido pelo tempo”.
- Maior qualidade: as doses industriais de amor e alegria.
- Maior defeito: a dependência que todo este mimo causa.

Apercebi-me que faço a mesma viagem quinzenal há 10 anos, sempre que vou aquecer a alma junto da minha (igualmente lamechas) família. Feitas as contas por alto, calculo que já completei o trajecto Lisboa-Algarve-Lisboa mais de 400 vezes. Gostava que esta neverending story tivesse um Falkor bem mais veloz do que o comboio da CP.

80's German Light Show!

Dá-lhe, Conan!
Or, should I say, Ruby? ;)

Mais um dia em vão no jogo em que ninguém ganhou

OK, eu sei que fiquei mal impressionada quando ouvi o senhor Tiago Bettencourt referir-se a si próprio como António de Oliveira Salazar, no breve momento de hesitação de uma promotora que tentava, ingloriamente, acertar no nome do ex-Toranja. Mas vou acreditar que tudo não passou de uma pequena barbaridade inocente – e quem não as diz, que atire a primeira toranja. Por isso, o meu primeiro passo no programa de recuperação “Não misture alhos com bugalhos”, é confessar que ‘O Jogo’ é uma grande canção, ajudada por uma letra deliciosa e com o cunho do produtor dos Arcade Fire.



Já chega de jogo, boa? «Vem, que nem o último a cair vai perder».

Nobody expects the... portuguese inquisition

Um dia, alguém fará pesquisa no Google por “Terry Jones” e vem parar a este blog, apenas para descobrir a seguinte inutilidade: o ex-Monty Python aprendeu a dizer “dois imperial” enquanto esteve a viver em Lisboa, durante quase dois meses, para encenar uma peça no Teatro São Luiz.
É preciso dizer que, além de brilhante, Terry Jones é um amor. E o maior gesto de “eu-sou-só-humano-como-vocês” foi quando ele nos pediu dicas e críticas, no intervalo do ensaio de imprensa de “Evil Machines”. Ok, eu até esperava mais desta ópera sobre máquinas que ganham vida e querem dar cabo da humanidade… mas afundei-me na cadeira e fiquei caladinha, que o respeito é bem bonito.
E o respeito também se deve a isto: “I just write what I like. And I seem to be on the level with most kids”, disse Terry Jones, divertido, durante a entrevista que fiz a meias com a amiga Sus. Despedimo-nos, pedindo-lhe encarecidamente para ficar a viver connosco em Portugal. Ainda assim, acobardámo-nos quando chegou a hora de pedi-lo em casamento.

Rufus Wainwright – Rules and Regulations

É uma das minhas preferidas do mais recente álbum “Release The Stars” e remete-me para um imaginário infantil que inclui passarinhos e abelhas a jogarem à apanhada num campo de flores. O realizador viu a coisa de outra forma e meteu uma cambada de homens de bigode e ceroulas nesta sugestiva coreografia:



O senhor Rufus é também responsável por um dos melhores concertos de 2007, no Coliseu dos Recreios. Já agora, como dificilmente recordarei metade destes concertos em 2018, fica registado que, no ano transacto, apreciei muuuuiiitoooo os !!! (Chk Chk Chk) no Coliseu, The National no Sudoeste, Patrick Wolf no Lux e no Sudoeste (porque ele se despiu neste 2º concerto), Andrew Bird no São Jorge, Beastie Boys no Alive, LCD Soundsystem, Arcade Fire, The Gossip e Maximo Park no Super Bock… e ainda os Clã na Aula Magna. Houve mais, mas estes foram os que me deixaram com um sorriso de orelha a orelha.

Sei o que fizeste na noite passada

Desde criança que quero um avião, um cavalo e um telescópio. Na falta de um aeroporto em Benfica – para quando um estudo do governo? – e de uma cavalariça no quintal lá do prédio, a minha mana do coração ofereceu-me um telescópio xpto pelo Natal. Ora, estamos em Janeiro e eu ainda não montei o bicho, porque fico cansada só de olhar para as dezenas de peças e respectivas instruções. So when will I finally be like Grace Kelly? (para associar ao filme do Hitchcock e não à canção do Mika).
Aproveito, entretanto, para avisar os vizinhos abrangidos pelo ângulo de visão da janela do meu quarto que vão começar a receber cartinhas anónimas nas suas caixas de correio.

Como os saldos podem distorcer personalidades

Não basta perdermos tempo e paciência a vasculhar lojas temporariamente transformadas em feiras da ladra, como ainda sentimos a nossa identidade posta em causa quando somos seduzidos por peças de vestuário que sabemos que nunca iremos vestir: “Ah, olha este vestido tão baratinho. Com estas lantejoulas, já poderei fazer de bola de espelhos na festa de amanhã”. Maldito sejas, casaco de peles, por seres uma pechincha ainda mais irresistível do que o urso que está à porta da Natura. Humpf. Os saldos transportam-nos, literalmente, de volta à idade do armário.

A Melhor Forma de Desejar Feliz Ano Novo...

... é mostrando o David Letterman, de barba crescida, juntamente com os guionistas a troçarem das suas próprias reivindicações e o Robin Williams a disparar 20 piadas num minuto.



2 Janeiro 2008

Continuação da entrevista com o Robin, aqui.

Últimos Momentos Bizarros de 2007

O périplo de episódios bizarros da passada semana começa no Fórum Algarve. A missão: comprar bilhetes para o “Bee Movie” (mas a versão portuguesa, que eu levava crianças no regaço e o grande Markl é mel para os meus ouvidos).
- Boa tarde, senhora da bilheteira [pronto, fiquei-me pelo ‘boa tarde’]
- Boa tarde, menina dos óculos berrantes [esta última parte também inventei]
- São 7 bilhetes, por favor. 4 crianças e 3 adultos.
- Ah… E os adultos… são muito adultos?
- Errr… Como assim, muito adultos? Por acaso, eu sou um bocadinho infantil. Conta?
* Pausa incómoda. Eu rio-me. A minha irmã ri-se. A senhora da bilheteira tarda em reagir *
- Então eu faço-lhe preço de estudante.

Na véspera de Ano Novo, já de regresso a Lisboa com o meu doce Twingo renascido das cinzas, deparo-me com o seguinte aviso, num painel eléctrico, em plena A2 Sul: “Perigo: Animal a 1 Km”. E eu penso: “caraças, é desta que o Twingo morre mesmo no dorso de uma vaquinha”. Imaginei uma manada de bois atravessando a auto-estrada. Ou mamutes sobreviventes da Idade do Gelo preparando o dia do Juízo Final. O ritmo do coração acelera, o Twingo abranda, eu aconchego os óculos à cana do nariz e eis que surge, na berma da auto-estrada, um pequenito rafeiro, abanando a cauda de felicidade por pregar sustos de morte a totós como eu.

Continuamos na noite da passagem de ano. Fim de tarde, vá. Pouso a tralha em Benfica e apanho um táxi para a casa de Susy Paula, de modo a poder enfrascar-me sem remorsos na última refeição do ano.Ao fim de 10 minutos agarrada ao telemóvel, alertando para o meu atraso (como se fosse preciso avisar, não é, amigos?), enceto a seguinte conversa de circunstância: “Então estamos quase a chegar a 2008, hein?”. E o taxista, satisfeito, explica-me todos os pormenores sobre o dia em que Deus vai descer à terra. Aí sim, começará um novo ano. Uma nova era. “Porque está quase a chegar o novo presidente do Planeta Terra”. E eu contenho o riso e pergunto: “Mas… presidente, como?”. Ao que o taxista responde: “Então, quem é que você acha que vai mandar nisto quando for o Apocalipse?”. Vem-me à cabeça uma imagem do Robert Duvall em Saigão. Pois bem, qual é o resultado de tudo isto? Passo a noite a cantar “Amar como Jesus Amou”, com uma corneta nos beiços.