Autor das sábias letras de ‘Fungagá da Bicharada’, 'Joana come a papa' e ‘Olha a Bola Manel’, eis que José Barata-Moura nos apresenta agora uma (igualmente sábia) reflexão, publicada na famigerada Agenda Cultural de Cascais – folhetim que comecei a receber no correio nos tempos em que fazia uma espécie de programinha, com sugestões para pseudo-intelectuais de óculos de massa, no projecto de rádio independente e destrambelhado que dava pelo nome de Química FM.
«Uma sugestão (des)pretensiosa:
Costuma repetir-se que, de quando em vez, é preciso parar para pensar. O preceito não está em absoluto desprovido de razão. Sempre que nos cumpre defrontar situações que se nos apresentam como «difíceis», que sentimos não serem «simples», que excedem as rotinas do que nos é «familiar» - importa, na verdade, interromper o curso da nossa mera flexão mundana e ocupar o espaço de alguma re-flexão (…)
Todavia, todos conhecemos também casos em que um asseveramento de que «muito se anda a pensar» mal serve de disfarce tosco para a escassez do que realmente é feito, e em que a avisada constatação de que «muito está ainda por pensar» se converte em rasteiro motivo e pretexto, auto complacente, para nada empreender.
Atalham-nos, por isso, de outras bandas, que parar é morrer, e que, em conformidade, ante as premências e urgências do agir (não raro revestidas de uma despachada pretensão de «mostrar obra feita»), o pensar (referido, em regra, como «um excesso de pensar») apenas redunda em embaraço ou estorvo, só serve «para atrapalhar».
A defesa desta atitude e abordagem acompanha-se, com frequência, de uma exaltação ansiosa do «pragmatismo», da «capacidade de decisão», da expedita «obtenção de resultados». Faz-se economia do indispensável trabalho que dá construir uma boa solução, e escancaram-se, muitas vezes, as portas do caminhar ao atarantamento entre vias que não são adequadamente percebidas na sua consequência, ao deslumbramento perante o que se imagina ser o «último figurino em voga», à capitulação grosseira ante o que habilidosamente nos vai sendo soprado como «o que está a dar» (...)
«Uma sugestão (des)pretensiosa:
Costuma repetir-se que, de quando em vez, é preciso parar para pensar. O preceito não está em absoluto desprovido de razão. Sempre que nos cumpre defrontar situações que se nos apresentam como «difíceis», que sentimos não serem «simples», que excedem as rotinas do que nos é «familiar» - importa, na verdade, interromper o curso da nossa mera flexão mundana e ocupar o espaço de alguma re-flexão (…)
Todavia, todos conhecemos também casos em que um asseveramento de que «muito se anda a pensar» mal serve de disfarce tosco para a escassez do que realmente é feito, e em que a avisada constatação de que «muito está ainda por pensar» se converte em rasteiro motivo e pretexto, auto complacente, para nada empreender.
Atalham-nos, por isso, de outras bandas, que parar é morrer, e que, em conformidade, ante as premências e urgências do agir (não raro revestidas de uma despachada pretensão de «mostrar obra feita»), o pensar (referido, em regra, como «um excesso de pensar») apenas redunda em embaraço ou estorvo, só serve «para atrapalhar».
A defesa desta atitude e abordagem acompanha-se, com frequência, de uma exaltação ansiosa do «pragmatismo», da «capacidade de decisão», da expedita «obtenção de resultados». Faz-se economia do indispensável trabalho que dá construir uma boa solução, e escancaram-se, muitas vezes, as portas do caminhar ao atarantamento entre vias que não são adequadamente percebidas na sua consequência, ao deslumbramento perante o que se imagina ser o «último figurino em voga», à capitulação grosseira ante o que habilidosamente nos vai sendo soprado como «o que está a dar» (...)
Talvez haja de convocar, então, uma outra perspectiva: passar da dis-junção dualizante a uma con-junção trabalhada (...).
José Barata-Moura
Traduzindo para miúdos: Penso, logo fungagá.
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