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Quero!




À venda na Perpetual Kid, uma loja online que se parece com o habitáculo de Susy Paula. A propósito: bem-vinda de volta, amiga, tu que trazes um pedacinho do coração do mundo contigo. A estafeta internacional da amizade prossegue agora com o Zombie do Éter, que promete regressar, dentro de 3 semanas, como o novo magnata dos têxteis. Conto contigo para importares todas estas tolices para a tua própria loja dos chinocas, que à noite se transformará no maior casino de Mem Martins.

Joy to the Bus

Não basta poupar na gasolina, nas portagens e na emissão de gases para a atmosfera, como ainda me entretenho a caminho do trabalho. Bem dizia a amiga Ana que o autocarro é o melhor barómetro social – e as recorrentes histórias rocambolescas da amiga Lia não denunciam o contrário – mas foi preciso mudar-me para Benfica (decoraste, mestre?) para me render aos transportes públicos.
É com prazer que assisto, diariamente, aos desabafos das velhotas sobre o tempo ou, como foi o caso desta manhã, ao fértil desfilar das fantasias de um senhor de 62 anos que, no meio da sua triste história (desempregado, sem abrigo, dependente da Santa Casa para comer), levou um bocadinho longe a sua dissertação sobre a ausência de valores na sociedade: “Na escola, é uma rebaldaria. Os alunos têm relações sexuais nas casas-de-banho, fumam drogas… Até as professoras ficam contentes, embrulham-se com os alunos na casa-de-banho… ou então… mesmo ali… em cima da mesa… da sala de aula…”. E, pela primeira vez desde que entrou no autocarro, o velhote emudeceu, visivelmente perturbado pela fantasia que ele próprio acabara de criar, para deleite de meia centena de estranhos.
Ontem, o deleite galhofeiro foi outro. Uma mulher levantou-se do seu lugar e interpelou-me da seguinte maneira: “Pode tocar-me?”. De fones nos ouvidos, balbucio atrapalhadamente um “desculpe?”. A minha mente conspurcada só percebeu o obséquio quando a senhora insistiu mais duas vezes, indicando o varão do autocarro para que eu tocasse na campainha para ela sair.

Mysterious Skin



«Where normal people have a heart, Neil McCormick has a bottomless black hole. And if you don't watch out, you can fall in and get lost forever».

Soa a lugar-comum mas assenta que nem uma luva ao protagonista alienado deste “Mysterious Skin”. Sim, o miúdo do “3º Calhau a Contar do Sol” está feito um senhor-actor.

Obrigada, Senhor, por esta recordação

"Deus fuma charutos de Havana", cantam Serge Gainsbourg e Catherine Deneuve, como se entoassem um salmo responsorial na missa:

A melhor definição de exaustão, mas não a minha que estou fresquinha das férias

«Winston sentia-se gelatinoso de cansaço. Gelatinoso era a palavra exacta. Viera-lhe espontaneamente à cabeça. Dir-se-ia ter o corpo não apenas mole como gelatina, mas translúcido. Sentia que se levantasse a mão à altura dos olhos veria passar a luz através dela. Tinham-lhe sugado o sangue todo e a linfa naquela gigantesca orgia de trabalho, deixando apenas uma frágil estrutura de nervos, ossos e pele.»

Está no “1984”, do George Orwell – o melhor amigo desta semana, que me acompanhou madrugada fora, numa estóica luta contra dores de estômago (sou bem menininha, hein?). Lição da noite: esperar que o processo de digestão termine antes de gabar os meus cozinhados. Constatação da noite: a música vem-me à cabeça nas situações mais estranhas. Para os nós no estômago às 4h46 da manhã, convidei a Ella Fitzgerald para cantar “I’ll tie a lover’s knot around wonderful you”.

Boys of Melody

Até pode ser «gay church folk music», como descreve o vocalista Joel Gibb, mas que o preconceito não vos refreie a emoção deste cenário à beira do rio Sena.
São os canadianos Hidden Cameras que, depois de um concerto em Paris, saíram à rua para tocar o ‘Boys of Melody’. E o resultado foi este: dez músicos armados de guitarras, violinos, violoncelos, pandeiretas e xilofones, a actuarem ao longo do canal Saint Martin para uns quantos gatos-pingados. Mi-au!

Poesia Tauromáquica

Começo por esclarecer que as touradas fazem-me querer espetar paus nos cavaleiros e esbofeteá-los com almofadas vermelhas. Porém, há que respeitar quem consegue ver a tauromaquia como uma “Arte & Emoção”, como é o caso do senhor que apresenta o programa homónimo da RTP2.
Num dia normal, mudaria imediatamente de canal, mas a solidão urbana de Domingo fez-me sentir próxima do touro na arena. Ou então a seguir davam os Simpsons e dei uma hipótese ao “melhor da festa brava em Portugal”- o subtítulo do programa.
Ora, o que nos conquista neste “Arte & Emoção”? Precisamente o relato da tourada, tão eloquente ao ponto de me fazer anotar o palavreado cuidado do apresentador que, excitadíssimo, confere estados de alma dignos de um poema aos touros e respectivos toureiros:
- “O cavaleiro não enjeitou a oportunidade, mas na pega mostrou-se mais reservado”
- “Apático e indiferente esteve o touro do Conde de Múrcia”
- “A pega resultou sem chama”
- “A lide terminou ao som de violinos”.

Neste dia, percebi o que Alexandre O’Neill queria dizer com “Há palavras que nos beijam como se tivessem boca”, porque me apeteceu cobrir o touro de beijos.

Pomba branca, pomba branca

The Doves - There Goes the Fear



Alvíssaras a quem os trouxer a Portugal.

A Tosta Estava Toda Iluminada


Vi uma senhora de meia-idade tatuar esta imagem no peito. É uma grilled cheese toast com a imagem da Virgem Maria e a dona quer mostrá-la ao mundo através do seu decote avantajado. Ofereceram-lhe 22 mil dólares pela tosta, mas ela não se quer livrar desta bênção calórica. Abençoado programa de tatuagens do People & Arts.

Porque Faço Compras no LIDL

À minha frente na caixa do LIDL, está um gajo de t-shirt vermelha com o logótipo da oficina das redondezas. Foi às compras com as irmãs e exibe uma caixa de preservativos retardantes: “Isto é mesmo bom, dá pra aguentar mais”, exclama o Sr. Tubo de Escape (Cognome, o Folião), para embaraço das duas manas.
A menina da caixa ri-se e não perde pela demora:
- Ah, és Pereira – diz o nosso herói, lançando um olhar à placa de nome da destemida trabalhadora – Então podias ser minha irmã também.
- Não que eu sou filha única – responde a moçoila, sorridente.
À falta de melhor, o motor endócrino expele:
- Filha única. Espectáculo. (Pausa) Então… até amanhã.

E despede-se, triunfante, abanando notas de 20 euros.
Isto, senhores, é engate de primeira.

Quando a Mente Fica Preguiçosa das Férias...

...dou por mim a exprimir-me como este senhor, num misto de grunhidos / bocejos.

O Mimo Vicia

Daí que me custe sempre deixar o Algarve.
Guardei-o no buraquinho do dente, vamos ver até quando é que dura.

O Meu Conceito de Férias

Arrancar dois dentes do siso no mesmo dia.
Apostar na dislexia enquanto acompanho os últimos momentos de Harry Potter em inglês.
Ultrapassar um velho motard montado na sua Harley Davidson que ouve, num rádio com potência suficiente para chegar a todo o distrito de Faro, as meninas Pipettes cantando 'Your Kisses are Wasted on Me'. Não, não eram os Doors nem sequer Jean Michel Jarre.

Depois de um Sudoeste a chover, diria que estas férias me estão a deixar dormente. Ou então é só da anestesia.

O Expoente da Vaidade

No dia em que Vítor Espadinha esteve nas instalações desta rádio, atingi o expooeeeente (para ler pomposamente, ao estilo Espadinha) da vaidade: pentear o cabelo defronte do vidro de um carro estacionado, sem perceber que lá dentro está uma criança sozinha, presa à sua cadeirinha, fitando, meio assustada, esta adulta que parece planear o seu rapto enquanto alisa as madeixas.

Vai daí que a canção ‘Ouvi Dizer’ não me sai da cabeça desde manhã
(há sempre um bom pretexto para recordar os Ornatos, não é Lia?)

Dá-le, Espadinha:

A cidade está deserta,
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte:
Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas.
Em todo o lado essa palavra
Repetida ao expoooeeente da loucura!
Ora amarga, ora doce,
Pra nos lembrar que o amor é uma doença,
Quando nele julgamos ver a nossa cura.

We’re half-awake in a Fake Empire

Gammita começou por me viciar nos National. Depois, mostrou-me a banda a tocar ao vivo no David Letterman:



E agora digam-nos se é justo meterem os National a tocar às 2 da manhã de Domingo no Sudoeste?

Os Canalhas

Eram todos canalhas, os protagonistas de Antonioni e Bergman. Qual neo-realismo, qual exploração da condição humana, qual quê. Canalhagem, mesmo.
Sobre a incomunicabilidade de Antonioni, muito mencionada nos telejornais de ontem, recordo a partida de ténis mais estranha de sempre em “Blow Up”. Ok, aqui é mutismo. Mas melhor ainda é este beijo entre Monica Vitti e Alain Delon, n’”O Eclipse” – reparem bem nas mãozinhas dos jovens:



Do senhor Bergman, que muitos diziam entender as mulheres como ninguém, destaco a cena cómica do elevador num filme que nem é nada de especial (humildemente reconhecendo o meu desconhecimento da restante obra do senhor). Chama-se “Segredos de Mulheres” mas, como o youtube não tem o vídeo (o drama, o horror), faço aqui o apelo para rumarmos aos cinemas King e vermos as reposições dos filmes de Antonioni e Bergman.

(Nota pós-post: a reposição é este fim-de-semana e eu não estarei cá. Quem tem DVD's pra emprestar? Troco por bolinhos de massapão).