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Xôtor dojolhos

Até há bem pouco tempo, desde os cinco anos que frequentava o mesmo oftalmologista: um senhor muito selecto, que atende os pacientes numa zona muito selecta – porque, na minha infância, o Saldanha era o centro urbano mais sofisticado do mundo, com edifícios a cheirar a requinte e pessoas eloquentes lendo revistas estrangeiras na sala de espera do consultório.
A última vez que o vi, há coisa de três anos, o Sr. dos Óculos mantinha a mesma aparência jovem e bronzeada de há duas décadas, denunciando possíveis esticanços de pele. Maninha o mesmo ar pomposo, a mesma dicção cuidada e voz mais do que ensaiada com a rotina do costume: para baixo, para cima, para o lado esquerdo, para o lado direito, e depois “a primeira linha, a segunda linha” e por aí fora.
Ora, por muito que gostasse de rever esta personagem tão importante na minha infância, o xôtor não tem acordo com a Médis. E agora os oftalmologistas que tenho à escolha no guia da seguradora têm nomes como Dr. João Feijão ou Dr. José Carpinteiro. Ficarei melhor servida com o rapaz do pé de feijão ou com o pai de Jesus?

Episódios reais, porém bizarros - II

O peluche de gorila na paragem de autocarro de Campolide, sem ninguém por perto que reclamasse a sua pertença.



Cambalacho

Sonhei que ia ter um cão. Ia chamar-se Cãobalacho, derivado da novela “Cambalacho”. Isto foi durante o sono.

Castanho pico

Adoro o desenrascanço das crianças. Há tempos, o Rafa pediu-me um “castanho pico”. Levou-me para a despensa e insistia naquilo. Pedi-lhe que apontasse o que queria, mas não estava à vista. Pedi-lhe uma descrição detalhada e ele lá explicou que se tratava de algo pequeno, castanho e com um pico. Hã? Uma estaca para matar vampiros? Um lápis de carvão? “Não, para comer”. Errm… Ahhh! Uma amêndoa!

Homem em part-time

Uma amiga desabafava a sua revolta porque o canalizador lhe cobrou 90 euros para desentupir a sanita: 40 euros de mão-de-obra (2 horas) e mais 50 de 'material' e 'deslocações'. A deslocação do técnico, neste caso, foi de 500 metros.
A força das circunstâncias levou-a completar o raciocínio da seguinte forma: “Tenho que arranjar um homem. Mas em part-time. Que a casa é pequena”. Quem quiser que se acuse (e subscreva)!

Episódios reais, porém bizarros - I

Episódio 1: O tipo com a cobra no parque.

Quando o sol perde a vergonha, aproveito a hora de almoço para pegar no livrinho e esparramar-me (um verbo que devia ser mais utilizado no léxico popular) no Parque Eduardo VII. Uma ocasião, um senhor parou perto de mim e olhou de soslaio para a minha pessoinha, sentada à chinesa na relva, mas limitei-me a desviar o olhar e continuar a ler. Para grande surpresa, quando me preparava para regressar ao local de trabalho, o mesmo senhor estava agora sentado num banco ao meu lado, com uma cobra no seu regaço. Não, não é figura de expressão. Havia mesmo uma cobra pequenita, branca e laranja, meneando por entre os dedos do senhor. Eu ri, nervosa; o senhor sorriu de volta; e lá cheguei ao trabalho, histérica, sem ninguém que acreditasse na minha história.
Dois dias depois, a minha sanidade mental é reposta quando comento o sinistro e dois colegas me esclarecem que o senhor da cobra tinha sido convidado para um programa de rádio lá da casa.

Nem em sonhos

Sonhei que o Daniel Craig era um agente secreto inglês (talvez tenha visto num filme), que estava em Portugal para resolver um caso melindroso na minha antiga faculdade, o ISCSP. O meu papel consistia em persuadir a Tuna, essa grande irmandade secreta, a revelar-me a informação que Daniel Craig tanto queria, provando que era uma fiel ex-iscpiana. E, para isso, tive apenas que cantar o hino mais tolo de sempre: “É I, é S, é CSP” – ou como soletrar as iniciais de uma faculdade em modo “a outra caminete é de casca de batata”.
Infelizmente, o segredo que me foi revelado era tão irrelevante que o meu subconsciente não o memorizou, nem permitiu sequer acesso à first base com o Daniel Craig.

O amor não é uma checklist.

Parece um vídeo sobre a crise, mas é um bocadinho mais irreversível



Nota: Fui a Tróia e não vi golfinhos roazes. Estou deprimida. Espera, estava sol. Talvez não esteja assim tanto.

Quando for grande, quero ter uma Engonhadoria

Engonhamos peças de roupa, de rádio e de teatro.
[Ou aquilo que vamos adiando nas nossas vidas].