Deixei o Rafa com um conselho para a vida: "Diverte-te muito e, quando estiveres com birra, dá um sorriso". O miúdo achou o recado divertido e disse que amanhã (em vocabulário infantil, significa “no futuro”) terei que brincar novamente com ele. Os conselhos que deu de volta: a) imitar animais sempre que puder; b) brincar com paus no meio da rua; c) ter sempre chocolates por perto. O que, na linguagem dos adultos, se traduz por viver apaixonadamente e, se possível, lambuzado.
Bebi um refrescante capilé e provei um copinho de orchata no Príncipe Real, num dos 3 novos quiosques da Catarina Portas com coisas do antigamente. Meti-me num táxi mais o Dave e continuámos a temática castiça dessa noite, graças a um senhor taxista - nome de código, “O Trinta” - que falou ininterruptamente até chegarmos a Benfica. Entre dezenas de outras coisas despropositadas, “O Trinta” contou-nos que, lá na sua terra, o ajudante de médico dava pelo nome de “Seringas”, e que o seu pai, que iniciou carreira como motorista de autocarros na zona do Intendente, era conhecido como o “Rodas Altas” , por causa do tamanho dos pneus da sua viatura.
Estava bebericando o primeiro café da manhã quando um senhor muito apreciado naquele estabelecimento se chega ao balcão. A proprietária pergunta-lhe “então e o seu filho, tá bonzinho?”, ao que ele diz que sim, que está tudo bem, que o filho chegou da lua-de-mel no México e que está bem de saúde porque a gripe não chegou à zona do país onde ele estava. Automaticamente, o meu subconsciente mandou-me encolher e sair de fininho do café, rezando para que ninguém me topasse, nem dissesse "'tás armada em porca”.
Ana Martins sente-se uma velha secundarizada pelas tecnologias, mas o Facebook causa-lhe claustrofobia. Ana Martins tem saudades dos amigos na vida real. Ana Martins porque a vida está lá fora. Comment · Like Unlike · Take Ana's Quiz · Create Your Own :P
A carreira 746 tem agora um autocarro bem modernaço, a cheirar a novo, com altifalantes projectando a voz de uma senhora que anuncia todas as paragens vindouras nos altifalantes, qual GPS dos transportes públicos. Mas há outra novidade ainda mais importante no 46, visto que é referente às cadeiras agrupadas em quatro (as mais detestadas pelos utentes, que tentam controlar os esgares de repúdio a cada esfreganço de joelhos com desconhecidos). A grande inovação é que há um lugar mais alto do que todos os outros, bem por cima da roda do autocarro. É uma espécie de altar - um pequeno trono para o rei do autocarro - com vista privilegiada para a rua e para os restantes utentes da Carris. E assim começou este dia, comigo armada em senhora, no palanque do renovado 46.