Sair à noite em Austin é como entrar numa fábrica de pot, e não estou a falar de olaria. Além de ser a capital da música ao vivo, Austin detém concerteza um epíteto para o maior número de janados numa área não superior a cinco quarteirões. Isso também vale para o número de tatuados, de west-side-east-side-representing-yo de colar brilhante ao peito, e de hippies fofinhos, porém eternamente necessitados de um banho. Bares, há-os normais, a lembrar a "cena" de Albufeira; há os tais de música ao vivo; e há os etnográficos, como o 'Mi Casa' para os latinos; o 'Shakespeare' para os betinhos; e o 'Nigga' (nome verdadeiro por apurar) para a malta dos props, cujo DJ vai animando o 'people' com a sua mão ondulante e o seu portentoso rabo virado para a vitrine, abanando uma bacia do tamanho do Mediterrâneo. Nota especial para os adereços: mini-saias e vestidos colados ao corpo, por vezes avantajado, de espécimes caucasianos predominantemente loiros, latinos ou negros, que se roçam em jovens potes de testosterona. O melhor da noite: o bar Coyote Ugly. Sim, é tudo o que o filme aclamava, e em cima do balcão, mas em feioso.
Estou parada na avenida principal de Austin, à procura de uma loja que venda adaptadores de corrente, quando uma sexagenária me aborda, mais o seu cigarro pendente do canto da boca: "Do you know where the lingerie shop is?". Engulo em seco, o tom é agressivo. "No, m'am, I am not from around here". Ela continua impaciente e solta o bicho da caverna: "Where you from? This place sucks. The whole United States suck. This is shit". Pois, mas eu só estou de visita. "From Portugal? I've been in Portugal. I was a stewardess. This place sucks. Do you know where the lingerie shop is?".
Três tugas ouvem falar de uma piscina natural em Austin, um tipo de riacho do Rio Colorado puxado pela barragem, com relvinha à volta e famílias a banhos. Três tugas metem-se no autocarro e logo um jovem de óleo fula no cabelo mete conversa com eles, oferecendo-se para levá-los à zona grátis de Barton Springs. O autocarro vai enchendo e percebemos que a alternativa a poupar 3 dólares de entrada na piscina natural é ficarmos sem roupa ao primeiro mergulho. Recusamos a oferta gentilmente, não sem antes sermos convidados para o aniversário do jovem na sexta-feira seguinte - primeiro na dita piscina, e depois na casa de um amigo. Não por sermos especiais, mas porque a sua missão, naquela tarde, era distribuir flyers para a sua festa de aniversário. Quem aparecer com um panfleto na mão, não precisa de levar bebida.
Vida de campus é proveitosa na UTexas. Há tempo para ler os livros de cinematografia, imagem e som; para esmiuçar as multi-funções dos produtores; para ler os guiões de 100 e muitas páginas de filmes inspiradores; para contar as escamas dos carapaus e os picos dos porcos-espinhos. Esta última parte só porque é Domingo e já acabei os TPC. Helas: professores exigentes, aulas estimulantes e colegas interessantes. A San Jacinto Residence Hall é uma de muitas residências neste campus com (glup) 140 hectares. Além das faculdades, temos um dos maiores museus de cinema de sempre (Harry Ransom Center), um ginásio a fazer inveja a muitos holmes places com três piscinas exteriores, e uns vizinhos muito castiços: esquilos e guaxinins. Se disserem que estive a dar-lhes batatas fritas, nego tudo.
O blog ressuscitou. A partir de hoje, crónicas do Texas. Poderá parecer que só vou falar do, ermmm, mau. Chamemos-lhe insólito. For real, Austin is the coolest place in Texas. Só não boto fotos ainda porque, feita tola, deixei a máquina em casa. Mas, brevemente, chegarão as fotos dos 10 colegas tugas que me acompanham nesta aventura texana :)