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A vida é feita de pequenos nadas, diz o Sérgio Godinho

E geralmente também não damos nada por eles. Vêm tão disfarçados na rotina que mal prestamos atenção às suas formas. Excepto, talvez, quando engolimos a rotina e vamos de férias. Foi por isso que tropecei neste pequeno nada: uma embalagem de Trident, comprada na Escócia, que acrescentava à morada da empresa: “Please write us if you’re feeling lonely”. Nessa mesma viagem pela terra dos kilts, assoei-me a uns lenços Renova que tinham a seguinte mensagem no pacotinho: “Made with smiles in EU”. Assim dá gosto ser (um tudo ou nada) ranhosa. :D

A vida real

Ontem à noite, numa respeitada pastelaria de Benfica, um senhor embriagado defendia o título de “o último comunista em Portugal” (o Avante provará o contrário), lançando para o ar impropérios de nível 10 – só porque sim. Eis que entra um jovem bem-parecido e arrumadinho, para perguntar qualquer coisa ao empregado, e grita-lhe o camarada: “Ó, tu aí, não dás uma queca há duas semanas”. :D

Pouca Terra-a-terra

Não consegue decidir se o melhor momento da sua mais recente viagem de comboio foi:

a) O barbudo com pinta de intelectual de esquerda que pôs a tocar, a partir do seu portátil, bossanova (daquela xoninhas) para a malta da carruagem. Um bem-haja pela depressão colectiva.
b) A jovem que mascava pastilha elástica com a boca aberta – tão aberta que chegava a ser pornográfico.
c) A pequena “chuckie” de 2 anos, autora d’A Birra do Século. Não bastava ter gritado e esperneado com a mãe, sentada no chão da carruagem. Quando recuperou forças, depois de ter estado no meu colo a ler um livro, a pequena roubou-me uma caneta, com a qual riscou a contracapa do meu livro e, quando lhe disseram “já chega”, ainda rasgou uma revista, só para mostrar quem manda. :D

Boas ideias para espairecer

"Vamos ser bonzinhos" OU "vamos ser multiculturais" .

Nós no coração

Vai, não vai; ama, não ama; partilha, não partilha; o rato, o gato e a ratoeira. É o mais poético que consigo quando o coração anda aos nós. Por enquanto, sei o que não quero: nem meias-verdades, nem meios-amores, nem promessas fajutas. Fui às nuvens e, agora que desci à terra, reencarnei na forma de um vulcão temperamental que reage quando lhe perscrutam a cratera. Se isto fosse nos tempos da censura, poderia muito bem estar a falar de sexo, mas aqui o prazer é mesmo o do amor ao natural, tipo iogurte com bifidus activo que faz bem ao organismo.

Baba de caracol

À venda no balcão de uma parafarmácia, vários boiões de Baba de Caracol para a pele. Porque a baba de caracol tem retinol, um anti-envelhecimento, explicou a farmacêutica. Eu própria já usei escama de dragão como exfoliante e nunca mais quis outra coisa.

Like and Dislike, género Time Out

Adoramos: Dar por nós no meio de uma fila de carros que se dirige para um casamento e sermos os únicos maltrapilhos no meio de gente fina, aproveitando a abébia socialmente aceite de buzinar alegremente pela estrada fora, acordando os bebés na sesta e os homens muito pastelões que se refastelam no sofá a seguir ao almoço.

Odiamos: Homens que nos abordam de forma… como é que se diz… badalhoca ou descarada. Exemplo de piropo endereçado a uma jovem num bar de Edimburgo: “Can I stick my finger up your p*ssy?”. A classe! Também houve um jovem que, durante o refrão do “Summer of 69” do Bryan Adams – “oh when you held my hand, I knew that it was now or never” – espetou a sua manápula à minha frente e, vendo que não tinha resposta, gritou “hold my f*cking hand”. A delicadeza. Outro ainda: um rapaz (com 32 anos já teria idade para ter juízo), meteu conversa no Facebook (!) dizendo, no espaço de 5 minutos, que eu era a mulher da vida dele e que a avó dele era médium, por isso ele sabia dessas coisas. Felizmente, a minha fé na humanidade foi recuperada quando, algumas semanas depois, o mesmo rapaz voltou a meter conversa, dizendo “Olá, quem és tu? Porque é que me adicionaste?”. A lata, senhores – para não dizer, a amnésia! O que é feito dos homens à antigamente? Ah, ficaram todos a andar a cavalo e a dizer coisas muito nobres nos livros da Jane Austen.

Agora é a sua vez: partilhe aqui os seus gostos e desgostos! :)

A transformação

Algo me dizia que a minha sorte estava a mudar - começando pelo facto de ter reservado um carro de gama baixa para ir até ao Porto, e chegar-me às mãos um Mégane novinho em folha. Oh diacho, disse o meu grilo falante, acostumado ao desconforto de meu Twingo, enquanto a minha pessoa se digladiava com aquilo que pode ser considerado um verdadeiro veículo de seis velocidades e cartão a servir de ignição (que isso das chaves é uma chatice, nomeadamente nos detectores de metais dos aeroportos).

O encontro imediato com o camião dos "Transportes Presunção" na A1 Norte confirmou que vivíamos tempos de mudança, por isso decidi mergulhar no desconhecido: ouvi a Rádio Festival [destaco a recuperação de ‘Chamava-se Nini’], estive vai-não-vai para espreitar a Danceteria “O Outro Lado” e comi uma francesinha ao pequeno-almoço.

Chegada ao Porto, sou instalada no quarto 1313, no piso – adivinhe-se! – 13. A vida sorria, o sol brilhava e os óculos de sol continuavam na óptica (primeiro foi a armação que partiu, depois o novo óculo extraviou-se nos correios, depois foi a lente que se partiu ao colocar nas novas armações e, finalmente, os óculos “novos” tinham uma lente verde e outra castanha). Mas os grandes amigos estavam lá e a música animava todo o meu ser. Tanto que, mesmo com 2 horas de sono, pedalei até à lua como o E.T. no Bike Tour Porto.

É isso, Ana. Tudo se está a resolver. Agora dorme o sono dos justos, que a tua alma está em paz, sussurrava a vozinha do canal myzen Tv.

E eis que, naquela linda manhã, a transformação ocorre. A lagarta virou borboleta. A Fénix renasceu. FÓNIX. Mas o que é isto no meu lábio? Ah, que bicho tão fofinho que me deve ter mordido. É preciso injecção, doutora? Ora bolas. E comprimidos e isso? Pronto, pelo menos só serei Mulher-Elefante durante dois dias. E, como diz o Vasco, se me derem moeda, até toco o sino.

No palco da minha tragédia grega…

… vou sair de cena, de fininho, sem dramatizar. Levar a vida a rir, amada e amante, compreensiva, objectiva, empenhada e, sobretudo, grata, até pela resina que se cola ao meu vestido quando ando por aí a abraçar árvores feita hippie. Porque raio nos esquecemos de viver a vida pelos motivos certos?

[Agora deixem-me só ir ali bater num koala, para descarregar adrenalina]

A vida tem sempre razão :)



Nota: esta cançoneta é do Vinicius de Moraes, hein! :)

Let's Get Out Of This Country!



Let's get out of this country
I admit I am bored of me! :)


FALTA UM MÊS PARA O CASAMENTO DA PRIMA!
(que por acaso é na Escócia, que por acaso é de onde são os Camera Obscura).

Conselhos de algibeira

Deixei o Rafa com um conselho para a vida: "Diverte-te muito e, quando estiveres com birra, dá um sorriso". O miúdo achou o recado divertido e disse que amanhã (em vocabulário infantil, significa “no futuro”) terei que brincar novamente com ele.
Os conselhos que deu de volta: a) imitar animais sempre que puder; b) brincar com paus no meio da rua; c) ter sempre chocolates por perto. O que, na linguagem dos adultos, se traduz por viver apaixonadamente e, se possível, lambuzado.

Nãããooo venhas tarde!

Era uma incontinente emocional que tinha fiado no Pingo Doce e vendia crédito no Banco dos Sentimentos.
Ass: a rainha do drama, também conhecida como “a das trombas de aço”.

[Só há uma coisa mais parva que a insónia. É a insónia ansiosa, quando se espera por alguém].

Fim de tarde 'tuguês

Bebi um refrescante capilé e provei um copinho de orchata no Príncipe Real, num dos 3 novos quiosques da Catarina Portas com coisas do antigamente. Meti-me num táxi mais o Dave e continuámos a temática castiça dessa noite, graças a um senhor taxista - nome de código, “O Trinta” - que falou ininterruptamente até chegarmos a Benfica. Entre dezenas de outras coisas despropositadas, “O Trinta” contou-nos que, lá na sua terra, o ajudante de médico dava pelo nome de “Seringas”, e que o seu pai, que iniciou carreira como motorista de autocarros na zona do Intendente, era conhecido como o “Rodas Altas” , por causa do tamanho dos pneus da sua viatura.

O porco e a paranóia

Estava bebericando o primeiro café da manhã quando um senhor muito apreciado naquele estabelecimento se chega ao balcão. A proprietária pergunta-lhe “então e o seu filho, tá bonzinho?”, ao que ele diz que sim, que está tudo bem, que o filho chegou da lua-de-mel no México e que está bem de saúde porque a gripe não chegou à zona do país onde ele estava.
Automaticamente, o meu subconsciente mandou-me encolher e sair de fininho do café, rezando para que ninguém me topasse, nem dissesse "'tás armada em porca”.

Ode aos amigos que vivem no Facebook e que só comunicam se lhes dermos o resultado dos testes “How Am I Going To Die?” ou “How Well do You Know Me?"

Ana Martins sente-se uma velha secundarizada pelas tecnologias, mas o Facebook causa-lhe claustrofobia.
Ana Martins tem saudades dos amigos na vida real.
Ana Martins porque a vida está lá fora.

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Pequenas vitórias do dia-a-dia

A carreira 746 tem agora um autocarro bem modernaço, a cheirar a novo, com altifalantes projectando a voz de uma senhora que anuncia todas as paragens vindouras nos altifalantes, qual GPS dos transportes públicos.
Mas há outra novidade ainda mais importante no 46, visto que é referente às cadeiras agrupadas em quatro (as mais detestadas pelos utentes, que tentam controlar os esgares de repúdio a cada esfreganço de joelhos com desconhecidos).
A grande inovação é que há um lugar mais alto do que todos os outros, bem por cima da roda do autocarro. É uma espécie de altar - um pequeno trono para o rei do autocarro - com vista privilegiada para a rua e para os restantes utentes da Carris. E assim começou este dia, comigo armada em senhora, no palanque do renovado 46.

Xôtor dojolhos

Até há bem pouco tempo, desde os cinco anos que frequentava o mesmo oftalmologista: um senhor muito selecto, que atende os pacientes numa zona muito selecta – porque, na minha infância, o Saldanha era o centro urbano mais sofisticado do mundo, com edifícios a cheirar a requinte e pessoas eloquentes lendo revistas estrangeiras na sala de espera do consultório.
A última vez que o vi, há coisa de três anos, o Sr. dos Óculos mantinha a mesma aparência jovem e bronzeada de há duas décadas, denunciando possíveis esticanços de pele. Maninha o mesmo ar pomposo, a mesma dicção cuidada e voz mais do que ensaiada com a rotina do costume: para baixo, para cima, para o lado esquerdo, para o lado direito, e depois “a primeira linha, a segunda linha” e por aí fora.
Ora, por muito que gostasse de rever esta personagem tão importante na minha infância, o xôtor não tem acordo com a Médis. E agora os oftalmologistas que tenho à escolha no guia da seguradora têm nomes como Dr. João Feijão ou Dr. José Carpinteiro. Ficarei melhor servida com o rapaz do pé de feijão ou com o pai de Jesus?

Episódios reais, porém bizarros - II

O peluche de gorila na paragem de autocarro de Campolide, sem ninguém por perto que reclamasse a sua pertença.



Cambalacho

Sonhei que ia ter um cão. Ia chamar-se Cãobalacho, derivado da novela “Cambalacho”. Isto foi durante o sono.

Castanho pico

Adoro o desenrascanço das crianças. Há tempos, o Rafa pediu-me um “castanho pico”. Levou-me para a despensa e insistia naquilo. Pedi-lhe que apontasse o que queria, mas não estava à vista. Pedi-lhe uma descrição detalhada e ele lá explicou que se tratava de algo pequeno, castanho e com um pico. Hã? Uma estaca para matar vampiros? Um lápis de carvão? “Não, para comer”. Errm… Ahhh! Uma amêndoa!

Homem em part-time

Uma amiga desabafava a sua revolta porque o canalizador lhe cobrou 90 euros para desentupir a sanita: 40 euros de mão-de-obra (2 horas) e mais 50 de 'material' e 'deslocações'. A deslocação do técnico, neste caso, foi de 500 metros.
A força das circunstâncias levou-a completar o raciocínio da seguinte forma: “Tenho que arranjar um homem. Mas em part-time. Que a casa é pequena”. Quem quiser que se acuse (e subscreva)!

Episódios reais, porém bizarros - I

Episódio 1: O tipo com a cobra no parque.

Quando o sol perde a vergonha, aproveito a hora de almoço para pegar no livrinho e esparramar-me (um verbo que devia ser mais utilizado no léxico popular) no Parque Eduardo VII. Uma ocasião, um senhor parou perto de mim e olhou de soslaio para a minha pessoinha, sentada à chinesa na relva, mas limitei-me a desviar o olhar e continuar a ler. Para grande surpresa, quando me preparava para regressar ao local de trabalho, o mesmo senhor estava agora sentado num banco ao meu lado, com uma cobra no seu regaço. Não, não é figura de expressão. Havia mesmo uma cobra pequenita, branca e laranja, meneando por entre os dedos do senhor. Eu ri, nervosa; o senhor sorriu de volta; e lá cheguei ao trabalho, histérica, sem ninguém que acreditasse na minha história.
Dois dias depois, a minha sanidade mental é reposta quando comento o sinistro e dois colegas me esclarecem que o senhor da cobra tinha sido convidado para um programa de rádio lá da casa.

Nem em sonhos

Sonhei que o Daniel Craig era um agente secreto inglês (talvez tenha visto num filme), que estava em Portugal para resolver um caso melindroso na minha antiga faculdade, o ISCSP. O meu papel consistia em persuadir a Tuna, essa grande irmandade secreta, a revelar-me a informação que Daniel Craig tanto queria, provando que era uma fiel ex-iscpiana. E, para isso, tive apenas que cantar o hino mais tolo de sempre: “É I, é S, é CSP” – ou como soletrar as iniciais de uma faculdade em modo “a outra caminete é de casca de batata”.
Infelizmente, o segredo que me foi revelado era tão irrelevante que o meu subconsciente não o memorizou, nem permitiu sequer acesso à first base com o Daniel Craig.

O amor não é uma checklist.

Parece um vídeo sobre a crise, mas é um bocadinho mais irreversível



Nota: Fui a Tróia e não vi golfinhos roazes. Estou deprimida. Espera, estava sol. Talvez não esteja assim tanto.

Quando for grande, quero ter uma Engonhadoria

Engonhamos peças de roupa, de rádio e de teatro.
[Ou aquilo que vamos adiando nas nossas vidas].

As desculpas

Não é novidade: os adultos são peritos em dar desculpas. Ou porque «estava a chover e apanhei trânsito», ou porque «tenho que acabar aqui umas alterações de última hora», ou porque «tenho uma micose que se expande por todo o organismo» (o que, nas míticas palavras de JC, se traduz por «tenho dores ao nível do corpo todo»).
Aos 4 anos – depois de tanto ouvir que é melhor comer tudo, senão vem o lobo, safado, esfrangalhar a sua merenda – Rafael também já se instruiu na arte das desculpas. Aqui há uns tempos, quando lhe contava uma história de embalar, o petiz interrompeu delicadamente a engrenagem do meu lado esquerdo do cérebro, sussurrando-me ao ouvido: «Acho que é melhor dormirmos senão vêm os monstros». Já este Domingo, deu por terminada a sua conversa telefónica com o David servindo-se da ardilosa frase: «Agora acho que estou a ficar surdo, não quero falar mais».

Love in da pub

Ontem vi a britcom mais hardcore de todos os tempos na TV 2. Chama-se “Katy Grande” e é tão badalhoca que, como diria D. Gamma, chega a dar a volta.

O horror de alguns sketches é superado pela paródia aos artistas da música, como os Ting Tings ou o Usher. Ora, tomem atenção a esta letra:

Quero muito, Senhor!

Twitchhiker: Volta ao mundo à boleia do Twitter – Da Inglaterra aos EUA e um voo para Nova Zelândia graças a ofertas via Twitter

Pessoa em Saturno

Sou fã do horóscopo do jornal Metro, escrito por uma senhora que raramente se rende à preguiça de traçar o nosso futuro com recurso a clichés. A bruxinha Vera Xavier dá-se mesmo ao trabalho de procurar citações interessantes para cada signo.

Ontem, no horóscopo dos Balança, estava Fernando Pessoa:

Há um tempo em que é preciso
abandonar as roupas usadas,
que já têm a forma do nosso corpo,
e esquecer os nossos caminhos,
que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia:
e, se não ousarmos fazê-la,
teremos ficado, para sempre,
à margem de nós mesmos.

Estes palhaços não podem fazer piadas com bombinhas de mau cheiro…

… mas conseguem fazer rir no meio da fome e da guerra.

“Uma criança que perdeu tudo continua a ser uma criança. O pior é quando é a própria imaginação que desaparece. Quando se perdeu tudo, pode-se ainda sonhar, esperar; mas, e quando já não se pode imaginar?”

(Na minha cabeça vou cantando, à la Peter Gabriel, "clowns without frontiers, war without tears").

Universo ao Meu Redor

Só mais um sentimentalismo :)

Quando comecei a aprender inglês na escola, quis ensinar a minha avó o maravilhoso poder da língua universal. Ela ria-se muito da ideia.
A minha mãe também se ria e explicava-me que não era possível, mas eu nunca percebi porquê. ‘Burro velho não aprende línguas’ não era explicação convincente para mim, até porque, até àquela altura, era eu quem aprendia com a minha avó o seu dialecto africano. [‘Chindere, neno lombongo genda co cinema’, era o que eu dizia ao meu pai quando queria dinheiro para ir ao cinema.]
Há uns dias, perguntei à minha avó o que é que ela ainda gostava de fazer na vida. É que, além de ter criado as netas, acabou por nunca se tornar enfermeira, nem viajar, nem ser independente. Ela respondeu o impensável: “Olha filha, gostava de aprender a mexer no computador”. Então, ontem à noite, antes que a avó regressasse ao Algarve e depois de me ter dado uma semana de mimos, liguei o portátil e, ao fim de cinco minutos de explicação, a minha avó exclamou, num misto de embaraço e de interesse: “Ah, afinal não é assim tão difícil”. E sorrimos as duas.

Ainda as formigas (só pra disfarçar a lamechice)

Lembro-me de ser pequenita e de brincar com as formigas debaixo da mesa da cozinha. E de fazer teleféricos, ligando os armários através de fios, nos quais os meus Pinipons passeavam a bordo de pequenos saleiros. Lembro-me de me isolar dos meninos, que podiam magoar o meu coraçãozinho hiper-sensível, preferindo ficar em casa a ler (a parte dos meninos mudou na adolescência).
Se não tivesse a família que tenho, incansável no seu amor e fé, ter-me-ia tornado um ratinho de biblioteca, um bichinho do mato. Não me canso de dizer que, para sermos felizes, só é preciso acreditarmos em nós. E por isso agradeço, uma vez mais, à minha família alargada - que hoje inclui os meus amigos e os meus mestres - por terem acreditado em mim primeiro do que eu própria. Amo-vos a todos e espero demonstrá-lo da maneira que melhor aquecer esses vossos doutos coraçõezinhos! :)

Vamos fechar o Tibete para obras

Fechar para remodelação. Quando voltarem, já não haverá tibetanos. Vai ficar tudo limpinho. 'Tá bem? Pronto.

* Prayers are upon you, Tibet *

A febre e a formiga

Haverá algo mais incomodativo do que acordarmos suados, com a boca seca e pastosa, a recordar a febre que nos embalou noite fora?
Penso que sim. Nomeadamente, uma dúzia de formigas vindas não sei de onde, a fazerem não sei o quê na bancada da cozinha.

Neuroses derretidas ao sol

Este sábado, acordei impaciente pela luz do sol, porque tudo parecia servir de empecilho entre mim e o iodo. Desde a roupa que precisava de ser estendida, à cama que tinha de ser sacudida e arrumada antes de sairmos de casa (caso contrário, os lençóis auto-destruir-se-iam à conta dos safados dos ácaros).
Quando, finalmente, ponho o pé fora de casa, um pacote de leite de soja traiçoeiro, na luta pela sua sobrevivência diante do Ecoponto, entorna os seus últimos pingos de vida para cima da minha blusa. É então que tenho que retornar a casa para trocar de roupa, protelando mais um bocadinho a estada ao sol.
Ora, as ganas de sol acabaram por ser vingadas com dois dias de praia. E o sol acabou por levar mesmo a melhor de mim, brindando-me uma valente constipação.
Na minha cabeça, prefiro acreditar que as neuroses se descompuseram ao sol e agora estão a ser expelidas sob a forma de pingos no nariz.

Happiness is a warm gun

A Sarah é uma das adolescentes americanas que aturou as minhas coordenadas disléxicas naqueles périplos pelo estrangeiro. Estava sempre tranquila e de máquina em riste. Num dos seus disparos olharapos, fez esta brincadeira e partilhou-a com a Kelly Belly. Ora tomem lá um sol só para vocês.

Wanna stay, stay, stay, stay for awhile...

Eu até nem sou fanática religiosa. Eu até ia adormecendo no último concerto, no Pavilhão Atlântico, sempre que a super-banda mergulhava num buraco negro temporal e transformava temas pujantes em tiradas tecnicistas de 20 minutos – por mais santificado que seja o vosso riff, admitamos que se esticam nas homilias.
Mas eu também continuo a dizer que este tema é infalível para pôr a malta a mexer. Ora vejam os passinhos de dança em pleno Central Park:



Da próxima vez que cá voltar, o Dave mete-os no Passeio Marítimo de Algés, no Optimus Alive, a 11 de Julho.

Now enough wasting time.
Off we go dancing.

Até ao dia de hoje, orgulhava-me de não ter nenhum vício.

Até que Deus criou este jogo.

Ó Santa Preguiça, trazei a mim uma citação.

"Own only what you can carry with you; know language, know countries, know people. Let your memory be your travel bag."

Alexander Solzhenitsyn

Wrong number

Ontem ligo para o novo número do meu primo, que tinha acabado de anotar no meu telemóvel, e dá-se a seguinte conversa:

- Então, primão!
- ‘Toue? (pergunta um senhor com sotaque das Beiras)
- ‘Tou a falar com o Nuno?
- Não… não senhora… de maneira nenhuma… o meu é muito mais comprido.

Terapia anti-mamute

Numa altura em que um mamute aterrou nas minhas costas sem pára-quedas, o meu chefe está a aterrar em Copacabana.

Marcelo Camelo - Copacabana



Terapia infalível: fazer a cama ao som do disco do Marcelo Camelo que Dona Gammita me emprestou ontem, depois do Queijo.

Bolo de chocolate

Foi erótico. Cinco mulheres desconhecidas fixando uma fatia de bolo de chocolate pousada na nossa mesa de almoço, aguardando a respectiva degustação por parte do homem que eu gramo.
Dica para os solteiros: experimentem fazer o mesmo, mas colocando ao vosso lado um carrinho de bebé, mesmo que lá dentro esteja um Nenuco (também dá muito jeito para passar à frente nas filas). Ou isso, ou um cão brincalhão aninhado no vosso colo, de preferência com olhinhos amorosos e muita lata para levantar a saia alheia.

Esta fala do “Casablanca” explica mais ou menos o estado da minha memória

Yvonne: Where were you last night?
Rick: That's so long ago, I don't remember.
Yvonne: Will I see you tonight?
Rick: I never make plans that far ahead.

A menina do lado não fazia de Yvonne. Nem poderia, com todo este descartanço.

Nota: quando procurava esta foto, tropecei nesta t-shirt.


Não percebo muito bem...

... a necessidade de se criar inimigos, verdadeiros ou imaginados, muitas vezes apenas para encapotar o raio do inimigo que somos nós próprios. Admitamos: é bem mais apetecível deitar as culpas para a incompetência, mediocridade ou _______ (insira aqui o defeito) de qualquer outra pessoa. Mea culpa, naturalmente, se (e quando) pela minha boca morrer o peixe. Mas acredito que a perseguição ou a crítica alheia é uma pescadinha de rabo-na-boca. E se não for, conto convosco para me esbofetearem com uma faneca.

Dicas:
- Se estiverem chateados ou se sentirem injustiçados, por favor, digam-no.
- Experimentem concentrar essas energias em vocês próprios, mas em bom.
- Não sofram por antecipação. É muito mais divertido mergulhar no inesperado.
- Depois relembrem-me todas estas cenas quando for eu própria a estar com a neura.
- E, agora, um abraço neste ponto de encontro.

Parar para pensar vs. pensar em andamento

Autor das sábias letras de ‘Fungagá da Bicharada’, 'Joana come a papa' e ‘Olha a Bola Manel’, eis que José Barata-Moura nos apresenta agora uma (igualmente sábia) reflexão, publicada na famigerada Agenda Cultural de Cascais – folhetim que comecei a receber no correio nos tempos em que fazia uma espécie de programinha, com sugestões para pseudo-intelectuais de óculos de massa, no projecto de rádio independente e destrambelhado que dava pelo nome de Química FM.

«Uma sugestão (des)pretensiosa:

Costuma repetir-se que, de quando em vez, é preciso parar para pensar. O preceito não está em absoluto desprovido de razão. Sempre que nos cumpre defrontar situações que se nos apresentam como «difíceis», que sentimos não serem «simples», que excedem as rotinas do que nos é «familiar» - importa, na verdade, interromper o curso da nossa mera flexão mundana e ocupar o espaço de alguma re-flexão (…)
Todavia, todos conhecemos também casos em que um asseveramento de que «muito se anda a pensar» mal serve de disfarce tosco para a escassez do que realmente é feito, e em que a avisada constatação de que «muito está ainda por pensar» se converte em rasteiro motivo e pretexto, auto complacente, para nada empreender.
Atalham-nos, por isso, de outras bandas, que parar é morrer, e que, em conformidade, ante as premências e urgências do agir (não raro revestidas de uma despachada pretensão de «mostrar obra feita»), o pensar (referido, em regra, como «um excesso de pensar») apenas redunda em embaraço ou estorvo, só serve «para atrapalhar».
A defesa desta atitude e abordagem acompanha-se, com frequência, de uma exaltação ansiosa do «pragmatismo», da «capacidade de decisão», da expedita «obtenção de resultados». Faz-se economia do indispensável trabalho que dá construir uma boa solução, e escancaram-se, muitas vezes, as portas do caminhar ao atarantamento entre vias que não são adequadamente percebidas na sua consequência, ao deslumbramento perante o que se imagina ser o «último figurino em voga», à capitulação grosseira ante o que habilidosamente nos vai sendo soprado como «o que está a dar» (...)

Talvez haja de convocar, então, uma outra perspectiva: passar da dis-junção dualizante a uma con-junção trabalhada (...).


José Barata-Moura


Traduzindo para miúdos: Penso, logo fungagá.

O presidente russo tem um blogue.

Está tudo aqui. Basicamente, é o mesmo que dizer: “escreva ao Pai Natal em checoslovaco e atire a folha ao vento. Na pior das hipóteses, mandamos-lhe um limpa-chaminés”.

Vou ao Algarve...

Se, na minha ausência, nevar em Lisboa, regressarei para a devida matança ao volante de um limpa-neves.

Estou a ficar perigosamente parecida com a minha mãe

Se me ouço, mais uma vez, dizer em voz alta “come só mais um bocadinho”, “brócolos faz muito bem ao duodeno” ou “veste o casaco que vem corrente de ar”; se continuar a disparar conselhos sem mos serem pedidos; se pré-ocupar a minha cabecinha com reflexões desnecessárias; prometo que corto num naco de mim própria e dou de comer aos lobos. Dos ibéricos, que estão em extinção.

Do verbo rebobinar

Como já não posso ter uma cadela chamada Bobina, gostava que a minha eventual bichana se chamasse Rebobina.
Tenho saudades de quando rebobinávamos as cassetes VHS. Tinha um aparelho desses quando era miúda, um rebobinador. O meu pai dizia que o vídeo estragava se andasse muito tempo para trás, por isso deixávamos que o versado mestre do rebobinanço tomasse conta do assunto. Suponho que o vídeo não tivesse a mesma perícia ou, como diz a sabedoria popular, que “chamasse o diabo” se andasse muito tempo para trás.
Ainda na temática “pêlo no sofá”, se tiver uma gata, chamar-se-á Féline Dion. Quando ela ignorar o meu chamamento, cantar-lhe-ei ao ouvido o ‘All By Myself’. O seu parceiro gato será o Fellini. Felizmente para a PETA, ainda não tenho nenhum animal para cantar comigo no Singstar.

A Short Love Story in Stop Motion

Aviso à navegação: é só um vídeozinho lamechas. Mas a música dos Sigur Rós no meio daquilo que muitos procuramos chega a ser comovente.
Sonhos de criança que são um sonho.


A SHORT LOVE STORY IN STOP MOTION from Carlos Lascano on Vimeo.

Ave rara em cativeiro

Especialmente vulnerável à extinção pela permanência em local fechado, pouco arejado e sem luz.

[Como é que é suposto ter os pés assentes no chão se um simples “.pt” à frente do nome me leva direitinha à página dos aeroportos de Portugal?]

I just love that feeling when we lift-off!

Elas têm a profissão mais antiga do mundo e orgulham-se disso.

Até dão palmadinhas umas nas outras, em sinal do mais profundo apreço mútuo.
“Satisfaction” é uma ficção australiana e dá na SIC Mulher pela madrugada adentro. Pronto, a série é poucochinha e mostra pouco mais que os bastidores de um bordel de luxo, com mulheres atraentes e letradas. O sexo visto à lupa, mesmo retratado com alguma classe, reduz-nos à nossa essência hormonal enquanto o diabo esfrega um… ermmm, olho.
E não, não ando com olheiras por causa disto. Mas no episódio que vi, havia um médico legista que só conseguia fazer o amor com uma menina que ficasse perfeitamente imóvel e que, antes do acto sexual, tomasse banho numa banheira com gelo e se esfregasse com pó de talco para parecer morta. Aí sim, há uma possível insónia.

The dog days are over!

Florence And The Machine - Dog Days


Obrigada, Nuska Babuska. :)

Olha balões!

O cabeçalho deste blog é inspirado no petiz Rafael, um promissor aprendiz das patranhas diplomáticas na faixa etária dos 0 aos 4 anos (o que não é de admirar quando o seu núcleo familiar é constituído por quatro mulheres beijoqueiras de quem a criança se tenta esquivar diariamente).
As técnicas de doce desdém pelos adultos começaram há coisa de um ano e têm sido aprimoradas desde então. Começaram, creio, quando a criança se apercebeu que a tia chata (ele só tem uma tia, não dá para negar) fazia grande alarido sempre que o via. Um dia, a tia chegou a sua casa e, cobrindo o menino de carinho - ou seja, bombardeando-o com perguntas sobre o seu estado de espírito - deparou-se com uma hábil manobra de diversão do seu congénere, que aponta para a televisão e diz “olha balões!”.
Um ano depois, quando a tia lhe conta uma história de embalar sobre uma formiga que andava à boleia de uma abelha, a ensonada criança desarma-a com: “Acho que é melhor eu dormir já… Senão vêm os maus”. Mauuu, que o miúdo ainda vai para vereador do jardim-escola.

Pronto, eu recapitulo.

O ano começou com certezas inabaláveis e terminou cheio de porquês, [alerta cliché] que as perguntas estão sempre a mudar.
Abri a minha bolha ao mundo. Comecei a partilhá-la com a frequência de uma pinga-amor melada, escangalhando a minha esfera de conforto. Não imaginava que dar-me, sem medos, fosse um atropelamento de sentimentos em hora de ponta.
Questionei-me e lamentei-me mais do que o costume, porque me vi à lupa, tipo formiga, a deixar de fazer tudo à minha maneira. Oscilei entre a culpa e a redenção, entre a transparência e a máscara. Estive mais comigo, tentando iluminar os quartos escuros, e agora vou ligar-me à electricidade para viver com o espírito livre e o coração carregadinho de amor.

Em 2009...

Escrevi mais, li mais e ri mais.
Aventurei-me e gostei.

(E o tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem).